Trezentos Blog

Informação de qualidade

Imagine que bizarro se o seu endereço fosse apenas uma combinação aleatória de três palavras comuns, algo como “cadeira-prato-colchão” ou “banana-congresso-cabelo”. Pois é exatamente assim, usando palavras como códigos de geolocalização, que a startup what3words pretende mudar a forma como nomeamos os lugares no mundo. O objetivo da empresa é criar um sistema universal, gratuito, democrático, fácil de lembrar e a prova de erros para endereçar o planeta.

De acordo com dados que a empresa compartilhou em seu site, em países em desenvolvimento, 50% das pessoas que moram em cidades não tem um endereço. Ao todo, quase 4 bilhões de pessoas são invisíveis nesse sentido: são incapazes de receber encomendas, agora imagine voce no Brasil sem possuir um endereço, como conseguiria receber uma compra pela internet ou até mesmo acompanhar a entrega através do rastreamento correios. É verdade que a forma como nomeamos um local específico no mapa tem funcionado há décadas e que facilita o envio de correspondências. No entanto, o que a what3words argumenta é que em pleno 2016 há maneiras mais fáceis e menos ambíguas de fazer isso.

Um dicionário para a geolocalização

O sistema da startup nada mais é do que um grid global, composto de 57 trilhões de recortes de 3×3 metros quadrados. É como se eles compilassem a superfície da terra a partir desses recortes, que depois são transformados em um conjunto aleatório de 3 palavras, que contemplam as coordenadas geográficas dessa localização. Para a empresa, usar palavras ao invés de nomes, números, códigos postais, latitude ou longitude é um sistema mais inclusivo para a maior parte da população, mais rápido e bem menos ambíguo. Qualquer pessoa consegue decorar uma sequência simples de três palavras, o que permite que mais e mais pessoas compartilhem suas localizações. Palavras de uma língua local, por exemplo, podem dar voz às necessidades de comunidades isoladas por falta de localização precisa.

Endereços mais bem pensados melhoram a experiência de consumidores, possibilitam maior eficiência no comércio local, impulsionam o crescimento e ajudam o florescimento econômico e social de países em desenvolvimento.

Torre de Babel

A base de dados que fornece as combinações das palavras é composta por uma lista de quase 40 mil palavras. A lista já passou por uma série de processos automatizados e humanos antes que o algoritmo determinasse as três palavras daquela região. O cálculo leva em consideração o tamanho das palavras, a sua distinção de outras, frequência e facilidade para pronunciar ou soletrar.

Palavras ofensivas ou muito semelhantes com significados diferentes (como colher, utensílio, e colher, verbo) são tiradas da lista. Palavras mais simples e comuns são usadas para áreas mais populosas do planeta, enquanto as mais longas e complexas ficam em áreas mais remotas. O sistema também evita repetições que possam confundir. O endereço “mesa-cadeira-luminária” e “mesa-cadeira-luminárias” estão em continentes diferentes.

Mas quem usa o sistema?

É claro que um sistema tão simples e assertivo só ganha real potência quando as pessoas começarem a usá-lo como padrão. É necessário uma mudança de hábitos profunda, adotada em níveis governamentais e pessoais, para que isso realmente aconteça. Hoje o sistema já possibilita que pessoas físicas, comércios e empresas usem o seu grid com facilidade e gratuitamente.

Em matéria publicada no site FastcoDesign, a what3words comunicou que uma empresa de energia solar na Índia já usa a ferramenta para entregar energia a casas localizadas em áreas remotas sem endereço. As Nações Unidas também já usam o aplicativo para recuperação de desastres naturais e o correio da Mongólia preferiu o sistema ao invés dos endereços tradicionais, que apenas metade da população possuía.