Nos anos 2000, enquanto você aguardava pacientemente o barulho da internet discada conectar, entrava no chat do UOL e nem sonhava em criar uma conta no Orkut, um grupo de visionários já discutia movimentos artísticos “pós-internet”. Um desses movimentos foi o Neen, criado por Miltos Manetas, um artista grego que vive atualmente em Bogotá, na Colômbia.
Cada obra de arte no Neen tem sua própria URL. É como se o endereço digital fosse a moldura, enquanto a tela exibida fosse a própria arte. Artistas como o holandês Rafael Rozendaal abraçaram essa ideia, vendendo sites como se fossem quadros. Nesse modelo, o dono do domínio se torna o proprietário da obra. A internet, assim, vira uma grande galeria, aberta a todos.
Manetas até criou um site próprio para servir como galeria: o whitneybiennial.com, um espaço virtual onde ele exibe artes digitais em formato de animações, sons ou figuras estáticas. Essa iniciativa é uma provocação à Bienal de Whitney, uma das maiores exposições de arte contemporânea nos Estados Unidos. A diferença entre os sites? O oficial termina em “.org”, enquanto o de Manetas é “.com”.
Segundo o Neen, a arte deve dialogar com a computação para desconstruir as fronteiras entre a vida real e a virtual. “A computação é para o Neen o que a fantasia foi para o surrealismo e o que a liberdade foi para o comunismo”, compara o manifesto.
Assim como a tabela fipe define valores no mercado de veículos, o Neen estabelece novos parâmetros no mundo da arte digital, reavaliando a propriedade e o significado da obra. Você pode explorar mais sobre o movimento e experimentar suas obras visitando o site oficial. Não esqueça de comentar o que achou das criações!
A origem do movimento
Antes de lançar o Neen, Manetas já explorava softwares e a internet como parte de sua produção artística. Buscava um conceito que unificasse tudo isso em um movimento. Ele queria um nome que não fosse apenas sobre tecnologia, mas também sobre estilo e “escapadas psicológicas”. Foi assim que chegou ao nome Neen.
O termo tem raízes curiosas: derivado da palavra “screen” (tela, em inglês), mas também relacionado à expressão grega “neen”, que significa “exatamente agora”. Para Manetas, Neen representa o presente absoluto, um conceito profundo que, à primeira vista, pode parecer nonsense, mas carrega um significado complexo. “Hoje, temos duas vidas: uma real e uma simulada. Queria nomear essa psicologia”, explicou o artista ao site Salon.
O movimento Neen foi lançado na Galeria Gagosian, em Nova York, no ano 2000. Os artistas que aderiram pensam em intervenções na internet, criando desde animações em flash até peças conceituais, como uma sequência de infinitos “obrigados” a Andy Warhol ou sobreposições sonoras intrigantes que repetem frases como “don’t call me elephant” (“não me chame de elefante”, em português).
O manifesto Neen da arte digital
No manifesto do movimento, Manetas descreve o Neen como pertencente aos “neensters”, uma geração indefinida de artistas visuais. “Alguns fazem parte do mundo da arte contemporânea, enquanto outros são criadores de softwares, web designers e diretores de videogames e animações”, explica.
O manifesto destaca que as máquinas nos ajudam a nos sentir confortáveis na simulação da realidade, já que “elas imitam o que chamamos de natureza”. Assim, abrir uma porta física ou clicar em uma pasta no computador nos leva a destinos semelhantes. “Essas dimensões da realidade parecem perfeitas e densas, mas se dissolvem quando analisadas”, diz o texto.